Efeitos da terapia antirretroviral sobre a microbiota bucal oportunista de pacientes HIV-positivos

Resumo

A modificação na sintomatologia da AIDS, com a introdução do coquetel antirretroviral, foi pronunciada, possivelmente em função da redução da carga viral e uma modificação da microbiota bucal. Este estudo comparou a microbiota bucal oportunista de pacientes HIV-positivos usuários ou não do coquetel antirretroviral e suas condições bucais. Participaram do estudo 200 pacientes HIV-positivos atendidos entre 2009-2010 no sistema público de saúde. Os pacientes foram submetidos a exames sorológicos para a confirmação da infecção e contagem do número de linfócitos T4, bem como a determinação de carga viral. Exames clínicos intra e extrabucais foram realizados. Desses pacientes, 150 não faziam uso de antirretrovirais no momento do exame clínico e 50 eram usuários desses agentes por, no mínimo 24 meses. A presença dos microrganismos alvo foi determinada por cultura e por métodos moleculares (PCR). Na microbiota de pacientes não usuários de antirretrovirais, a presença de microrganismos entéricos e leveduras atingiu 52,7% e 64,7% dos pacientes, enquanto entre os usuários desses agentes a ocorrência desses microrganismos estava restrita  a 8% e 22% dos mesmos. A presença desses microrganismos esteve associada a casos severos de gengivite e periodontite, candidose pseudomembranosa e com a utilização de antimicrobianos de amplo espectro. Esses dados mostram que o coquetel antirretroviral pode modificar a capacidade de colonização de microrganismos oportunistas, o que reforça a necessidade de sua utilização nos pacientes infectados e a relevância do diagnóstico precoce da AIDS.